André Sztutman

Carlos Monroy

Bhagavan David Barki

Leonardo Stroka

Sári Ember

Suiá Ferlauto

Tchelo

Posted by caramelo77 on

Leonardo Stroka – Derrota, Dissipação e Esbanjamento

2015
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Texto (POR):

The future is but the obsolete in reverse[1]

-Vladimir Nabokov-

Nos aproximar do estado de espírito comum aos terrenos baldios, ferros-velhos ou galpões industriais precários é ficar suspenso no meio da impressão de obsolescência e a indigesta sensação de familiaridade – e potencialidade – que nos liga com tudo do que uma vez nos beneficiamos. É possível experienciar a tensão entre resistência e desistência que acomete indistintamente toda estrutura desenvolvida que mais tarde é legada ao isolamento e à degradação.

As possibilidades que envolvem pensar, criar, manipular e agenciar essas frações mundanas exclusas de uma função social definida, de uma orientação cênica propriamente dita e, portanto, seguramente distante das zonas de uso regular, reforçam o mal-estar que nos cerca cotidianamente em tudo que fazemos. Seja pela própria insistência na produção de coisas em um mundo abarrotado, ou em razão do manejo da evidência de ferrugens, carburações, amassos, abandonos e desmanches, ficamos de frente com uma perspectiva capaz de suspender a linearidade temporal para tomar qualquer ação produtiva ao ponto de um projeto absolutamente dispendioso, cuja ruína se anuncia antes mesmo de sua execução.

O trabalho de Leonardo Stroka parte dessas operações ao deslocar e transformar insumos corriqueiros de maneira a alterar nossa relação com suas atribuições, e o tempo e o espaço em que possivelmente se inserem. Nesse sentido, nos faz presenciar ícones do progresso desenvolvimentista em uma constante perda de emprego funcional ao atuarem como matéria-prima para que novos artigos possam surgir pela via de um esforço espiritual e preocupado sobretudo com resoluções de ordem formal. Materiais utilizados para construir, blindar, ocultar, proteger, intimidar, gerar energia e vigilar ficam tão somente a serviço da formação de objetos insólitos, que carregam em seu próprio semblante índices de transfor- mação; eficazes em ritualizar com vigor o contexto que agora lhes cabe e que em nada se referem às negociações e procedimentos nos quais são comumente dispostos.

Se por um lado as configurações resultantes desse processo tanto não valem às nossas necessidades corriqueiras como já adiantam-se em se acusar ruinosas, não deixam de batalhar a todo instante para tornar-se situação. Em sua estranheza – afastada do barulho e das limitações inventivas do júbilo e do otimismo -, nos é permitido contemplá-las livres de identidades definidas. A partir do que sussurram, então, conseguimos tatear intermináveis exercícios de prosopopeia, considerando seus ânimos e disposições.

Entre compostos de óleo combustível, metais, poliéster, cimento e sistemas digitais, “Derrota, dissipação e esbanjamento” nos movimenta na velocidade de um misticismo tecno-primitivo. Aqui cada gesto se esgueira na fronteira que marca o encontro da frieza da matéria e do ranço demasiadamente humano que impregna nossas criações. Onde há a sombra dos efeitos do uso e seus exageros, e a de uma natureza sempre pronta para nos soterrar em definitivo.

Logo nos assalta o arrebatamento fruto do anseio pelo desastre – ou no mínimo esgotamento – que estamos certos de que irá chegar. Mas se as sugestões do ermo, taciturno e desbarata- do podem nos fazer crer que tratam de cenários distantes em suas distopias – tal qual destroços e fantasias de um futuro perdido -, pode ser também que nos revelem sob o signo de uma ressaca, cujos sintomas já se fazem sentir e provavelmente não encontrarão fim.

Germano Dushá

[1] O futuro não é senão o obsoleto ao reverso.

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Exhibition’s Text (ENG) :

The operations that build the work of Leonardo Stroka depart from the relocation and transformation of ordinary raw materials that changes our relations with their duties. Likewise, they make us rethink about the time and space that they fit in. It is possible to witness progress and a huge loss of function. Materials used to build, shield, generate power and monitor exist to architect unusual objects are capable of creating a ritual in a totally new context that doesn’t makes any connection to the previous procedures in which they are commonly disposed.

These configurations reinforce an inescapable malaise by the insistence on the production of things in a crowded world, or due to the handling of evidence, rusts, smoke, crashes, dropouts and miscarriages.

“Defeat, dissipation and squandering” moves us in a mood close to the wastelands, junkyards or insecure industrial warehouses: something in between of a sensation of obsolescence and an indigestible feeling of familiarity – and potentiality – that connects us with everything that give us any benefit or safety.

If the wilderness, taciturn and squandered may lead us to believe that we are dealing with distant scenes in their dystopias, sensations proposed by Leonardo can be revealed closer than how we imagine, under a hangover whose effects are already being felt and probably will not find the end soon.